VIAGEM AO PARAÍSO ANTES DA MULHER
Em minhas viagens imaginativas, encontrei-me em determinada manhã no Jardim do Édem.
Impressionado com a beleza natural do Jardim, ouvindo o trinar dos pássaros e o sussurrar tranquilo do vento por entre as folhagens verdes, começo, então, a investigar o ambiente que parecia ter saltado da tela de um pintor renomado.
Entre tantas coisas que me impressionam, destaca-se o ambiente de paz e harmonia que aqui se faz sentir. Há como que uma inter-relação harmoniosa entre todos os animais.
Posso acariciar a juba de um leão que se delicia com os raios dourados da manhã que desponta ensolarada e, sentir em meus ombros o pouso tranquilo de um pássaro, que com o seu canto mavioso, parece querer me dizer alguma coisa, que infelizmente não consigo entender.
Encontro mais adiante, um enorme rio de águas cristalinas, onde se pode ver os peixes saltando como se fossem um bando de meninos que felizes correm saltitantes de um lado para outro.
Andando pelas margens do Rio, encontro uma grande árvore com seus galhos que se estendem até a água e, lá à sua sombra está Adão. Com ansiedade corro até ele para que juntos possamos dividir a alegria daquele lugar e, conversarmos sobre a sua experiência de administrar um lugar tão especial.
Após nos apresentarmos e, passados os primeiros momentos de espanto por parte de Adão, que não conseguia entender como havia uma outra pessoa ali, junto a ele, começamos então, uma longa conversa que me deixou impressionado.
Pensei que encontraria um Adão muito feliz, afinal, era o “mandachuva” daquele lugar.
Gente, acredite, ele não tinha sogra. Não tinha despertador para avisa-lo todos os dias: vamos levante, está na hora de sair para enfrentar o ônibus lotado com todo mundo pisando nos seus pés e o motorista que parece se divertir fazendo as curvas e lançando-nos de um lado para o outro.
O Adão não tinha mulher para lembra-lo todos os dias do pagamento do aluguel, da lavadeira, da arrumadeira, da escola das crianças e do famoso dinheirinho da feira.
O meu amigo Adão, no meu entender, teria que ser feliz. Ele não sabia o que é ser despertado pela madrugada e ouvir alguém do seu lado com uma barriga enorme lhe dizer com aquela voz melosa que nos impede de dizer não — Meu bem, eu não conseguirei dormir se não comer um pastelzinho daquele que o chinês faz ali na esquina.
É, definitivamente o Adão tinha que ser feliz. Ele não tinha filhos para acordá-lo no sábado bem cedo para que ele fosse ensinar a empinar uma pipa ou encher a sua bola de futebol e, além de tudo isso, ainda tinha o privilégio de conversar com Deus todos os dias e fazer suas reivindicações sem a menor cerimônia. Que cara feliz, julgava eu.
Agora, porem, encontro ali um homem cabisbaixo, triste, sem motivação para aproveitar todos esses privilégios, para desfrutar de toda aquela beleza e tranquilidade de um jardim feito sob medida para ele.
Conversando com Adão, observo que, na verdade, a sua maior necessidade era ter ali ao seu lado alguém que o compreendesse, que pudesse compartilhar com ele cada momento, fosse ele de alegria ou tristeza, alguém com quem ele pudesse dividir os seus momentos mais íntimos.
Acreditem, o Adão não era feliz, e, estava com ciúmes dos outros animais, ele não conseguia entender como o elefante depois de conhecer a dona elefanta e ter com ela um namoro lhe vinham outros elefantinhos que brincavam com os pais gorduchos.
Adão gastava horas, imaginando como a sua vida seria feliz se encontrasse em um ponto qualquer daquele lindo jardim, alguém para estar ao seu lado, mesmo que fosse para exigir dele o dinheirinho da feira, do colégio das crianças e etc.
Olha, Adão estava até com desejo de ser acordado pela madrugada para rodar por todo o jardim em busca de uma carambola para alguém com desejo do sétimo mês de gravidez.